Quadrinhos
'Mafalda' completa 50 anos sem
perder a relevância
Personagem do cartunista argentino Quino completa meio
século ainda atual
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Personagem Mafalda, criada pelo cartunista Quino |
Mafalda, a menina anticonformista criada por Quino em 1964,
chega aos 50 anos famosa no mundo inteiro e sem perder a atualidade. Segundo seu
criador, seus temas e preocupações continuam relevantes porque muito do que ela
questionava continua sem solução na Argentina e no mundo.
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O cartunista Quino ao lado de escultura de Mafalda em Buenos Aires, Argentina |
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Escultura da personagem Mafalda feita pelo artista Pablo Irrgang colocada em frente a casa onde Quino criou a personagem na década de 60 |
Quino, que mora parte do ano em Madri e o restante do tempo
em Buenos Aires, apresentou, através do olhar crítico da menina de classe
média, a própria visão do mundo. Mafalda não gosta de sopa e critica o mundo
dos adultos. Seus temas favoritos são os problemas econômicos e sociais, as
desigualdades, a injustiça, a corrupção, a guerra e o meio ambiente.
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Praça Mafalda no bairro de Belgrano em Buenos Aires, Argentina |
O autor, cujo nome verdadeiro é Joaquín Salvador Lavado
Tejón, publicou seu primeiro trabalho em 1963, mas foi a pequena menina de
cabelo preto e fita vermelha que o levou à fama em 1964. Quino havia esboçado a
personagem um ano antes, em uma tira de publicidade de uma marca de
eletrodomésticos que não prosperou. "Adaptei a tira. Como não tinha que elogiar
as virtudes de nenhum aspirador, a fiz reclamar, carrancuda."
Quino encerrou as aventuras da personagem em 1973. Ele
afirma que acabou com a série porque "estava cansado de fazer sempre a
mesma coisa". "A decisão passou até por áreas conjugais, porque minha
mulher estava chateada de não saber se podíamos ir ao cinema, convidar pessoas
para jantar, porque eu ficava até as dez da noite com as tiras. Além disso, era
muito difícil não repetir."
"Havia um professor da minha geração, Oski, e ele nos
disse que nunca tivéssemos um personagem fixo", continua. "E que, se
tivéssemos, deveríamos pegar a tira e tapar o último quadrinho com a mão. Se o
leitor adivinhasse como terminaria, deveríamos parar de fazê-lo. Me pareceu um
bom momento e não imaginei que 40 anos depois continuaria vigente".
Sem censura - Em 1976, com o golpe militar na Argentina,
Quino se exilou em Milão, mas Mafalda continuou a habitar o país.
"Acredito que aconteceu porque a arte das tiras era considerada um gênero
menor, que não representava uma ameaça como voz histórica. Os desenhos não
aparentavam ser uma arte altamente intelectual e eram percebidos como
entretenimento".
Mafalda é muito popular em vários países e Quino diz que
fica surpreso com o fato de ser uma das 10 figuras argentinas mais famosas do
século XX. "Acredito que a temática é comum a todos os grupos familiares
humanos, estejam na China, na Finlândia ou na América Latina".
Alguns comparam a menina argentina de classe média a Charlie
Brown, personagem criado pelo americano Charles Schulz. Para Quino,
"Mafalda pertence a um país denso de contrastes sociais, que apesar de
tudo queria integrá-la e fazê-la feliz, mas ela se nega e rejeita todas as
ofertas. Charlie Brown vive em um universo infantil próprio, do qual estão
rigorosamente excluídos os adultos, com a diferença de que as crianças querem
virar adultos. Mafalda vive em um contínuo diálogo com o mundo adulto, mas o
rejeita, reivindicando o direito de continuar sendo uma criança".
De acordo com o autor, Schulz criou personagens antipáticos,
simpáticos, bons, maus, invejosos e isto foi uma revolução. "Eu peguei
bastante dele, mas, como não sou americano, fiz uma adaptação muito argentina
da coisa".
Ao ser questionado sobre como vê a Argentina e o mundo de
hoje, Quino mantém a postura. "Nossa obrigação é acreditar que o futuro
vai ser melhor, mas no fundo sabemos que tudo continuará sendo como até
agora".
(Com agência France-Presse)