quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Caricaturistas mostram visão ácida sobre a vida política brasileira no teatro

Caricaturistas mostram visão ácida sobre a vida política brasileira no teatro

Em espetáculo com banda, os irmãos Paulo e Chico Caruso passam a limpo os últimos 30 anos de governo democrático

CARLOS BRITO
Rio - No dia 15 de janeiro de 1985, os irmãos Paulo e Chico Caruso se permitiam experimentar um sentimento que, pelo menos em tese, é bem conhecido dos brasileiros: esperança. E, não por acaso — após 21 anos de ditadura militar, Tancredo Neves se transformava no primeiro presidente eleito —, ainda que de forma indireta, via colégio eleitoral — de um novo período democrático para o país. Porém, como se sabe, apenas três meses e seis dias depois, ele morreu.



Sessenta caricaturas feitas pelos gêmeos — 30 por cada um deles — formam parte da apresentação, que é complementada por canções críticas aos presidentes
Foto:  Divulgação

“E pior: o Sarney assumiu. O resto da história é conhecida. Mas tento enxergar pelo lado bom: quando ele sentou na cadeira da presidência, tive a certeza de que nunca mais ficaríamos desempregados. E não ficamos. As três décadas seguintes garantiram nossos empregos”, relembra Chico Caruso, bem-humorado. Foi para fazer uma revisão de tudo o que aconteceu na política nacional nesses últimos 30 anos que os irmãos se reuniram no show ‘Que País é Este?’, que estará amanhã, sábado e domingo no Teatro Solar Botafogo. 
O espetáculo se desenvolve sobre dois pilares principais: a exposição de sessenta caricaturas feitas por cada um dos gêmeos e as canções escritas para o show. Ambos se unem para fazer uma análise bastante cáustica da história política recente do Brasil.
“Somos caricaturistas. Resumindo bastante nosso trabalho, diria que nossa função é capturar a realidade e reproduzi-la em nossas obras com um olhar crítico. O que impressiona no Brasil, no entanto, é o fato de percebermos como a realidade política daqui é bem mais impressionante que qualquer coisa que conseguimos transportar para o papel”, analisa Paulo.
Como já fizeram em apresentações anteriores, os irmãos Caruso sobem ao palco para apresentar canções cujas letras são tão ácidas quanto suas ilustrações. E os dois estão bem acompanhados: o também caricaturista Aroeira (chargista do DIA) assume o saxofone, Pablo Pessanha se apresenta com músicas e performances corporais, Kiko Chaves cuida do violão de sete cordas, Sergio Magalhães fica com a flauta, Papito comanda o contrabaixo, Cláudia Barcellos o violino, Nelson Pagani dita o ritmo na bateria e o próprio Paulo Caruso fica responsável pelo piano.
“Temos mais de 100 canções escritas. Poderíamos fazer um show de muitas horas apenas com nossas composições. No entanto, optamos por montar um repertório menor, com 15 peças”, explica Paulo, lembrando que parte das canções são adaptações de clássicos do jazz.
E em cada uma delas é possível encontrar pedradas críticas para todos os ocupantes do Palácio do Planalto desde a redemocratização: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
“Cada um dos presidentes possui várias particularidades, tanto pessoais quanto políticas. E são elas que chamam nossa atenção e nos inspiram na hora de criar. O que fazemos, com as caricaturas e também com as músicas, é usar o humor para poder criticá-los”, finaliza Chico.

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